Por gentileza:
Ela sonhou, mas...
Sonhou que ele tornara a passar, recebera a resposta e escrevera de novo. No fim de alguns dias, pediu-lhe autorização para solicitar a sua mão. Viu-se logo casada. Foi uma festa brilhante, concorrida, a qual todas as pessoas amigas foram, cerca de dezoito carros. Nada mais lindo que o vestido dela, de cetim branco, um ramalhete de flores de laranjeira, ao peito, algumas outras nos apanhados da saia. A grinalda era lindíssima. Toda a vizinhança nas janelas. Na rua gente, na igreja muita gente, e ela entrando por meio de alas, ao lado da madrinha... Quem seria a madrinha? Em sonhos mesmo discutiu isso, interrompendo a entrada triunfal ao templo.
Depois de três meses, estaria ela casada;
Muitas rosas desfolhadas sobre ela. Eram caídas da tribuna. O noivo deu-lhe o braço, e ela saiu como se fosse entrando no céu. Os curiosos eram agora em maior número. Gente e mais gente. Chegaram os carros; lacaios aprumados abrem a portinhola. Lá vai depois o cortejo devagar e brilhante, todos aqueles cavalos brancos pisando o chão com uma gravidade fidalga. E ela, ela, tão feliz! Ao lado do noivo!
A fada branca dos sonhos continuou assim a fazer surdir do nada uma porção de coisas belas. Descobriu, no fim de uma semana de casada, que o marido era príncipe e ela, princesa. A prova é que aqui está um palácio, e todas as portas, loucas, cadeiras, coches, tudo tem armas, príncipes e princesas, no escudo, uma águia ou leão, um animal qualquer, mas soberano.
Alteza para cá e para lá...
E tudo assim, até quase de manhã. Antes do sol acordou, esteve alguns minutos esperta, mas tirou a dormir para continuar o sonho, que então já não era de príncipe. O marido era um grande poeta, viviam ao pé de um lago, ao pôr-do-sol, cisnes nadando, um princípio último da fase de delírio.
Acordou tarde; ergueu-se ainda com o sabor das coisas imaginadas, e o pensamento no namorado, noivo próximo. Embebida na imagem dele, foi às suas abluções matinais.
A mucama entrou na alcova.
- Nhá?
- Que é?
- Achou na cesta uma carta?
- Achei
- Vosmecê me perdoe, mas a carta era pra outra Nhá.
Ela empalideceu. Quando ficou só, ela deixou cair uma lágrima e foi a última que o Amor lhe arrancou.
(Helena - Machado de Assis)
〰️💙〰️💙〰️
Moral da história:
Nem todo sonho de Amor tem final feliz...
Gratidão a todos amigos que participaram ativamente da comemoração fraterna de 1 ano do blog .
O final da história de vocês foi muito lindo, com términos felizes.😍
Que na vida real seja assim!
É o que lhes desejo de 💙.
Engraçado eu tenho este livro, mas já o li há tanto tempo que não reconheci o troço que publicou. Apenas me ficou na memória a sua morte perante o desespero de Estácio. Penso que está na hora de o reler.
ResponderExcluirAbraço, saúde e bom fim de semana
Maravilha de final, triste, mas pelo menos serviu para que ela não mais sonhasse e chorasse por ele que nada tinha de príncipe... Era a chance agora dela recomeçar, colocar uma pedra por cima dos sonhos passados e ir em frente!!!
ResponderExcluirFoi muito legal participar e te ler! Valeu!
Ótimo fds com tudo de bom,chica
Boa tarde Amiga Rosélia,
ResponderExcluirUm final que, na verdade, não acabou feliz!
Sonhos são sonhos e ao despertar tudo muda, embora haja lindos sonhos que se concretizam.
Gostei imenso de participar. Um desafio à criatividade e para mexer a cuca como diz nossa amiga Chica.
Beijinhos e um abençoado fim de semana com muita paz.
Ailime
Que imagem feérica linda!
ResponderExcluirE o sonho, que maravilha...
O Príncipe, que sempre brilha.
E a fada, que vive ainda.
O imaginário não finda,
Sempre com um sonho divino...
Na alma deste menino
Há a Rapunzel encantada
Que me acorda à madrugada
E brinca com o meu brinquedo
Como se mamãe, mais sedo
Acordasse-me, por nada.
Parabéns pela bela postagem! Abraço fraterno. Laerte.
Como deixei aberto o separador da sua página, fui relendo as diversas versões do sonho e só agora descobri o final inesperado deste interessante conto de Machado de Assis.
ResponderExcluirObrigada e um beijinho, Rosélia!
Ahh, que pena!! Jamais poderia imaginar esse final frustrante para a personagem da história. Seja como for, é uma bela e interessante história.
ResponderExcluirBeijinhos, e feliz nova semana.
Um final que não esperava mesmo, mas a vida é mesmo assim, nem sempre as histórias acabam de forma feliz.
ResponderExcluirBeijinhos
Que final inesperado, Roselia! Que a realidade alimente sonhos felizes!! Grande abraço.
ResponderExcluirVerdade, amiga: nem todo sonho de amor tem um final feliz. Mas, enquanto dura, o sonho ilumina toda uma vida! Meus sinceros parabéns, pelo aniversário; que venham muitos outros, para que continuemos todos juntos! Meu abraço, boa semana.
ResponderExcluirLinda publicação Rosélia!
ResponderExcluirSeria bom se todo sonho de amor fosse a realidade que necessitamos!
Mas, que seja perfeito para uma vida feliz.
Parabéns pelo aniversário e que venha muito mais, estamos aqui!
Beijos e um feliz novo mês!
Querida amiga Rosélia, nem sempre as histórias terminam com um final feliz. Gostei muito desta publicação.
ResponderExcluirBeijinhos e uma feliz semana.
boa noite Rosélia,
ResponderExcluiras palavras são magia, criam situações, bordam sonhos e histórias de príncipes encantados e de princesas sonhadoras,
mas também podem acordar os noivos e os amantes,
e transformar sonhos em realidade humana e mais palpável
o final não foi feliz, ou nunca terá acontecido?!
vou tentar saber mais sobre a história!
beijinhos grandes, amiga, feliz mês de agosto!
Boa noite, Rosélia!
ResponderExcluirPor vezes, a realização de um sonho está mais perto do que se imagina. Noutras vezes... é um ideal. Contudo, a causa não é perdida. Um olhar atento faz toda diferença. "Porta estreita", este final.
Do início ao fim, um chamado a desenvolver cada músculo e exercitar cada faculdade em contínuo esforço e excelente progresso; conforme a amiga é mestre em atrair-nos.
Beijo e meu carinho!!
Renata
A vida tem destas coisas mesmo.
ResponderExcluirE saber que Machado foi o primeiro a me atrair para a literatura. Tenho uma coleção completa dele na minha cidade, creio que ainda por lá. Li Helena nos anos 70.
Bela interação.
Bjs de pazz.
Estou relendo o que também li nos anos 70 para o Vestibular, amigo.
ExcluirA coleção que meu padrinho me presenteou é maravilhosa em seus 31 volumes.
Beijinhos 😘
Final não desejado pela personagem e nem os leitores sempre gostam, mas uma desilusão é a possibilidade de se abrir novas hist´rias, recomeçar. Boa noite, Bjsss
ResponderExcluirSeja como for. Viva a capacidade de criar dessa nossa arte de escrever; viva a vida, viva o amor!
ResponderExcluirUm abraço. Tudo de bom.
APON NA ARTE DA VIDA 💗 Textos para sentir e pensar & Nossos Vídeos no Youtube.
São tantas as Helenas , estou lendo a de Tróia .
ResponderExcluirAs histórias reais são as que mais nos surpreendem e nem são sempre felizes .
Gostei muito Rosélia dessa interação com participações todas inteligentes .
grande abraço. e que venham outras...
beijinhos
Viver sem amor é possível e quando as coisas não correm bem talvez seja melhor assim - embora seja doloroso.
ResponderExcluirMinha querida Rosélia, caloroso abraço
Rosélia, vendo agora a comemoração do primeiro ano do Amor Azul. Excelente a história proposta e as criações.
ResponderExcluirParabéns por esse primeiro ano e pelo segundo.
Boa semana!