Depois aprendi mais, e descobri que há escritores à paisana, disfarçados de gente e camuflados de cinzento.
Um corpo que insiste em voar.
O mundo nunca foi um lugar 'recomendável', e por isso, fomos aprimorando a arte da fuga: pelas ideias, por Deus, pelo Amor...
Capazes de desaparecer mesmo de onde nunca estiveram.
Lá vai o artista por um caminho que só ele conhece.
Chamam-lhes de loucos, estão sempre adiantados ou atrasados em relação ao tempo dos outros e, alguns, nem cumprem as “regras literárias”.
Romperam com o passado e abriram novos caminhos...
Souberam desobedecer às regras literárias do modo mais escrupuloso.
Olhavam para as nuvens e nelas descobriam os tigres e os dragões que lhe habitavam os sonhos.
As nuvens são próximas da imaginação, ideias que voam e vão tomando as formas que lhes soubermos encontrar.
Transformam o ridículo e o inverossímil em hipóteses, memórias e experiências.
Os homens são cheios de nuvens e não sabem...
Há quem respire por palavras e músicas secretas, quem se passeie no céu porque só o azul lhe aguenta o peso.
Em todos os tempos há quem critique os sonhadores, os intelectuais e os poetas.
O príncipe Andrei Bolkonsky é derrubado pelo exército francês na batalha de Austerlitz e, deitado no chão, pensa para si mesmo:
Tudo é vaidade e correr atrás do vento, diz o Eclesiastes, mas o céu é verdadeiro, o céu espelha os homens sem lhes perguntar razões.
Lançados ao vento, que voem para não cair, que se raptem a si mesmos e fujam ao peso de ter peso!"
('Un Mot d'Ailleurs' - Em outro lugar)
Amor que não obedece regras,
Amor que me faz andar nas nuvens,
Amor que me enche de ideias nobres,
Amor nubívago, delicioso, terno, sem rédeas,
Como carregar uma criança bebezinha no colo,
Sensação térmica aumentada... quentura de corpo,
Amor além das 'coerências' da vida, calor do coração,
Amor de nuvem mágica, empolgante, extasiante, em ação,
Amor de sonhadores, de românticos, de loucos, de ditosos...
Amor abstrato, sem sentido aos olhos dos indigestos, mas de regaço.
Nuvem é disfarce,